O Art. 140 do Código de Trânsito Brasileiro preceitua que para
conduzir veículo automotor e elétrico, além de ser apurado através de
exames, deve o condutor preencher três requisitos. Ser penalmente
imputável (ter condições físicas e psicológicas de responder penalmente
pelos seus atos); saber ler e escrever; possuir RG ou equivalente.
Muito bem. Alguma coisa no que tange a leitura, na prática, precisa
ser feito com urgência. A cada dia que passa aumenta o número de
analfabetos no trânsito. Jovens, que estudam nos melhores colégios,
tiram 10 na Prova de Legislação. Quando entram no trânsito, tiram zero.
A palavra PARE passa a ser AVANÇA. A PROIBIDO estacionar, buzinar,
virar à esquerda etc., leem: PERMITIDO. A de regulamentação: 60km/h
(velocidade máxima) é lido como 80, 100. Numa espécie de daltonismo, a
cores vermelha e amarela viram uma só: verde. A sinalização está sob
suas barbas e sua visão enturva. E quantos, por causa disso, já sobraram
na curva? Quando não, perderam, bestamente, dinheiro, ceifaram a sua e a
vida de muitos. E assim cada dia que passa, por medo, negligência,
imperícia ou imprudência, vai grassando o analfabetismo no trânsito.
Como filósofo, habituado a buscar as últimas causas, fico a questionar: o
que faz com o que o ser humano queira tanto mal a si mesmo. Até os
animais irracionais – se pudessem manifestar sua vontade – rejeitariam o
mal para si mesmos. É inerente à própria natureza.
Por que o homem nega a sua natureza? A resposta está dentro dele
mesmo. Só precisa de uma ajuda externa: a educação. No dia em que nas
escolas for ensinado a PENSAR desde o infantil (o maternal), cada um vai
descobrir que não precisará mais de ninguém para dizer o que ele tem
que fazer. Será autónomo. Um sonho que remonta a Sócrates (469 a.C.),
quando criou a “maiêutica” (método baseado na ideia de que o
conhecimento é latente na mente de todo ser humano, podendo ser
encontrado pelas respostas a perguntas propostas de forma perspicaz.
Isso é ensinar a pensar.
Conclusão: enquanto não houver educação para o trânsito da pré-escola
à universidade, continuará desaparecendo do chão brasileiro em média 40
mil pessoas anualmente, causados pelo analfabetismo no trânsito.
* Gerardo Carvalho (Pardal).
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