sábado, 21 de fevereiro de 2009

A QUEM INTERESSA.

“Que história é essa de que trânsito deveria interessar a todo e qualquer cidadão?”

Foi o que ouvi de um senhor que assistia, em meio a mais de uma centena de professores, a uma das minhas muitas palestras sobre o assunto. O homem quase gritava, visivelmente nervoso. Fiquei pensando se eu não teria exagerado naquela tela do Power Point com as últimas estatísticas de acidentes de trânsito.

Fiz uma rápida revisão mental e fiquei tranqüilo. Claro que eu não tinha exagerado. Todos sabemos que os trinta e poucos mil mortos a cada ano é um número subestimado. Também avaliei se eu não teria me entusiasmado demais – eis meu defeito – e carregado as correlações que fiz com o dia-a-dia das crianças, dos pais, professores, condutores, em relação às responsabilidades que contraímos, ainda que inconscientemente, quando o assunto é trânsito. Minha auto-resposta foi não. Eu até nem tinha feito muitos apelos, não tinha usado nem um terço dos argumentos do meu arsenal. Mas a reação daquele homem me deixou preocupado.

Já perdi a conta de tantas pessoas com quem falei sobre o assunto. As pessoas sempre ficam impressionadas, perplexas, com cara de quem nunca tinha parado para pensar sobre o assunto. Volta e meia alguém reage de forma mais intensa. Foi o caso dele. Aquele homem levantou-se já falando alto e apontando o dedo pra mim. Mas ele não me acusava, exatamente. Ele protestava esbravejando contra o cidadão desinformado que, naquele momento, descobria ser.

Relatou-me, no final do evento, que sua sensação foi de extremo desconforto por descobrir, de repente, que podia ter feito algo efetivo para mudar a história de sua vida. Que tinha perdido muito tempo brigando com guardas, multas e acidentados que, assim como ele, também amargavam a dor de perder alguém querido.

Por fim, para meu alívio, agradeceu.
- “Isto que você está fazendo é muito importante”, disse ele.
Abraçou-me e saiu com os olhos mareados. Aí vai um cidadão que acaba de despertar para a dura realidade que, no trânsito, todos temos uma parcela de responsabilidade, pensei. Minhas palestras nunca mais foram as mesmas.

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