Sem fiscalização eficiente, condutores preferem dirigir ilegalmente a cumprir legislação
Gilson é um piloto de 63 anos que há mais de dois dirige com
pontuação na carteira de motorista acima do permitido por lei. Mesmo já
tendo sido parado em blitze, ele nunca foi questionado ou repreendido. E
é por causa de situações como essa que milhares de motoristas optam por
dirigir mesmo desrespeitando a lei em vez de pagar as taxas e
participar do curso de reciclagem para recuperar a carteira. Para tentar
reverter a sensação de impunidade entre os condutores, o Departamento
de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) resolveu investir nas ações
contra os infratores.
Conforme a delegada Inês Borges Junqueira, o número de processos
administrativos por causa de pontos na Carteira Nacional de Habilitação
(CNH) ou infrações gravíssimas cresceu quase quatro vezes na comparação
do primeiro trimestre de 2013 com o mesmo período deste ano. Em 2014,
foram 18.759 ações abertas, contra 4.875 no ano anterior – em todo 2013,
foram instaurados 21.927 processos. “Nós estamos correndo atrás do
prejuízo para que as famílias possam sair de casa com seus carros com
tranquilidade e segurança”, reconhece a delegada.
Uma das maneiras de agilizar o julgamento é a realização de mutirões.
Dados da Polícia Civil indicam que, entre 2011 e 2013, três já foram
realizados. No primeiro ano, foram 700 intimações e 267 carteiras
entregues. Na segunda edição, foram mil chamados e 301 CNHs recolhidas.
No ano passado, foram 1.500 e 546, respectivamente.
A Polícia Civil não informou o número de motoristas que hoje dirigem
na capital e no Estado com pontos acima do permitido, nem quantos foram
flagrados em blitze ou envolvidos em acidentes. Mas, segundo a
corporação, 98% dos processos abertos têm algum tipo de desfecho em
cinco anos, seja de cassação da carteira ou com decisão de recurso
favorável ao condutor.
Trâmite
Um dos empecilhos para quem precisa regularizar a
carteira é o processo. É preciso passar por um curso de reciclagem de 30
horas, pagar por ele (em média R$ 350 nas autoescolas mais R$ 70 de
taxas do Detran) e se submeter a uma prova.
Por outro lado, o motorista só é penalizado caso seja flagrado em
blitz – e seus pontos forem checados – ou se envolva em algum acidente
(veja quadro ao lado). “O sistema é falho e ineficiente. Já parei em
blitz, e nem checaram meus pontos. É uma tremenda babaquice esse Código
de Trânsito Brasileiro. Não é uma coisa objetiva, que vai colaborar para
o bem da coletividade. Apenas penaliza, muitas vezes, os bons
motoristas”, pontua o piloto Gilson.
Assim como ele, um dono de restaurante da capital de 49 anos já
ultrapassou os 20 pontos permitidos na CNH e não pretende procurar o
Detran para se regularizar. “Há sete meses descobri que estou irregular,
com 87 pontos, naquela época. O negócio é que não tenho tempo para
essas coisas, e ninguém fiscaliza mesmo. Nunca fui notificado”.
O Detran-MG informou que prioriza casos com pontos próximos de expirar e aqueles condutores com pontuação mais alta.
Campeões
As ações por excesso de pontos puxam os números deste ano para cima.
Foram 18.357 no primeiro trimestre de 2014 contra 3.832 de 2013. Os
processos por infrações gravíssimas caíram de 1.043 para 402. Ao todo,
em 2014, foram 18.759 processos.
O Detran divulgou o ranking das multas de 2014. Excesso de velocidade
está no topo, com 112 mil infrações na capital. Em MG, são 202 mil. O
celular vem depois, com 22 mil e 49 mil multas, respectivamente.
Infrações gravíssimas
São aquelas que cometidas apenas uma vez já fazem
suspender a CNH, como dirigir embriagado, com carteira cassada, fazer
racha e passar o carro para inabilitados. Motociclistas sem capacete
também se enquadram nessas infrações.
E-mail
O Detran alerta para um trote no e-mail sobre
processos abertos pelo órgão. Só na última semana, cerca de 200
condutores procuraram o Detran, que informou que apenas notifica os
condutores por correio tradicional.
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