Blindar um veículo aumenta a segurança, mas custa caro e requer cuidados específicos com manutenção
A sensação de insegurança no Brasil e os números crescentes da
violência urbana levam muitas pessoas a tomarem uma medida drástica:
blindar seus automóveis. A procura por esse tipo de serviço vem
crescendo tal qual o ritmo da criminalidade e um carro à prova de balas
dá as pessoas uma chance de reação, que em veículos sem proteção pode
ser mal sucedidada e no pior dos casos até mortal.
A procura por carros blindados vem batendo recordes a quatro anos consecutivos, segundo balanço da Abrablin,
associação que reúne cerca de 70% das empresas blindadoras no País, e o
número deve continuar aumentanto – a entidade ainda não divulgou os
números de 2014, mas é previsto um aumento na casa dos 5% referente ao
desempenho do ano passado comparado a 2013, quando 10.156 carros
receberam a proteção .
No entanto, como se sabe, o preço que se paga pela proteção é
praticamente o mesmo valor de um automóvel zero km. Um carro pequeno,
como uma picape compacta (o mais comum quando se busca uma blindagem
eficiente de custo relativamente baixo) fica em torno de R$ 37 mil,
enquanto a proteção para um sedã saí por R$ 50 mil e para um SUV pode
superar os R$ 60 mil. “Apesar do valores, a blindagem para automóveis
não sofreu reajustes nesse tempo, o que vem aumentanto a procura ano
após ano”, explicou ao iG Fabio Rovedo, ex-presidente da Abrablin.
O nível máximo de blindagem permitido para usuários civis atualmente é
o III A, que resiste a disparos de revólveres convencionais, como
calibre 38 e 9 mm, e até metralhadoras de baixo calibre, como a Uzi.
Proteções mais resistes, como o nível III que resiste a balas de fuzil,
requerem uma autorização especial do exército brasileiro.
A blindagem III acrescenta ao carro vidros temperados com 20 mm de
espessura, além de proteções para o habitáculo, que as empresas do ramo
chamam de “blindagem opaca”. Essa proteção consiste em malhas de aramida
(são usadas até 9 camadas), que ficam escondidas principalmente nos
forros das portas e na traseira do veículo, especialmente em SUVs, que
possuem a tampa do porta-malas mais avantajada. O pacote também inclui
pneus especiais, que podem continuar rodando mesmo após receber disparos
de armas de fogo – o mais comum é o runflat, mas também há opções com
cintas de aço ou borracha reforçada.
Blindar o carro é um processo delicado e exige perícia e tempo para
ser realizado. O processo leva de 20 a 40 dias, dependendo das
características do carro. Quanto maior for o veículo, mais complexa é a
blindagem.
Confira abaixo o que você precisa saber antes de blindar seu carro:
1 – A blindagem resiste a dois disparos ou mais no mesmo ponto?
Segundo a Abrablin, a blindagem nível III A pode sim receber dois
disparos ou até mais no mesmo ponto. No entanto, atingir o mesmo ponto
mais de uma vez é algo raro de acontecer, sobretudo com o veículo em
movimento. É preciso ter uma pontaria excepcional.
2 – A blindagem reduz a vida útil do carro?
A blindagem nível III A acrescenta ao carro cerca de 180 kg ( a nível
III pode passar de 900 kg). Portanto, é como se o usuário utilizasse o
carro sempre com o porta-malas cheio, o que sobrecarrega a suspensão,
freios, motor e câmbio, mesmo seguindo a manunteção preventiva do
fabricante. Além disso, com mais peso o consumo de combustível também
aumenta.
3 – A blindagem requer manutenção?
Os vidros de alta resistência são compostos de diversas camadas de
materiais diferentes e com o tempo essas lâminas podem se deslocar,
processo que é notado com o surgimento de bolhas, deixando o vidro com
um aspecto embaçado. Isso pode acontecer devido a reações da composição
do produto ou pelas condições de uso. Um carro blindado que enfrenta,
por exemplo, trechos acidentados tendem a apresentar esse defeito com
maior frequencia. Essa mesma condição também pode causar deslocamentos
na blindagem opaca, que dependendo do estado pode perder a resistência
balística. Em ambos os casos, somente empresas blindadoras podem
solucionar o defeito e buscar alternativas mais baratas podem
comprometer a proteção.
4 – Carros populares podem ser blindados?
Qualquer automóvel pode ser blindado, mas é preciso avaliar a
eficiência e viabilidade do projeto tanto financeiramente quanto
técnicamente. Para cada carro há um esquema específico de blindagem e
dependendo do modelo o desenvolvimento pode ser mais caro, mesmo para um
veículo popular.
5 – Que tipo de carro não é indicado para blindagem?
Não são indicados para blindagem veículos que após um estudo técnico a
sua relação peso/potência excedam certos parâmetros. Um veículo cujo o
peso da blindagem exceda em 15% o peso original do veículo já sinaliza
que o mesmo não é indicado para receber a blindagem. Carros com muita
área envidraçada também são mais complexos para blindar, especialmente
modelos com parabrisas panorâmicos.
6 - A blindagem oferecida a civis no Brasil suporta explosões?
Não existe uma resposta final para esta pergunta. Dado a
impossibilidade de se quantificar a energia liberada e também porque se
desconhece uma norma especifica para isto. No entanto, para tal é
indicado blindar o assoalho, que poderia proteger os ocupantes no caso
de uma explosão deflagrada por baixo do carro.
7 – Existe alguma alternativa de baixo custo para proteger o carro?
Existem no mercado películas que ao serem aplicadas no vidro aumentam
sua resistência contra golpes com objetos, no entanto essa solução não é
eficiente contra armas de fogo.
8 – Quais cuidados deve-se ter ao comprar um carro blindado usado?
Geralmente, carros blindados usados são oferecidos com preços
sedutores. Um VW Touareg usado e blindado pode ser encontrado por cerca
de R$ 45 mil. Mas nesse caso, o barato pode sair caro e, sobretudo,
perigoso. O veículo pode estar com os vidros e blindagem opaca
comprometidos a ponto de exigir uma revisão completa da proteção. O
indicado é apresentar o carro a um especialista antes de efetuar a
compra.
9 – Um carro blindado pode ser arrombado?
Apesar da resistência a armas de fogo, um carro blindado pode sim ser
arrombado usando ferramentas comuns, como varetas de aço e chaves de
fenda usadas por ladrões. No entanto, empresas blindadoras garantem que o
processo é mais complicado do que em carros convencionais devido aos
reforços aplicados nas maçanetas.
10 – Que armas uma blindagem comum pode suportar e quais não pode?
A blindagem mais usada no Brasil, a nível III A, resiste as chamadas
“armas de mão”, que são revolveres como o famoso calibre 38, 9 mm e
Magnum .44, armas muitos usadas por bandidos. Essa blindagem também
suporta disparos de metralhadoras leves e escopetas. Essa proteção,
contudo, não resiste a balas de armas de cano longo, como fuzis e
metralhadoras de grosso calibre. Para tal, é necessário no mínino a
blindagem III, que requer uma autorização do exército brasileiro para
ser instalada.
Fonte: IG Carros