Todos os motoristas
e motociclistas que circulam pelas ruas do país, legalmente, passaram
por um curso preparatório, o chamado curso de primeira habilitação
oferecido pelos Centros de Formação de Condutores (CFC’s). No entanto, a
formação desses futuros motoristas, o processo de aprendizagem e as
dúvidas recorrentes dos alunos para tirar a Carteira Nacional de
Habilitação (CNH), muitas vezes, não são suficientemente claras.
Existem muitas críticas ao papel das autoescolas
na formação dos condutores. Isso por que a responsabilidade das
autoescolas está em não só ensinar novos motoristas a dirigir, mas
também despertar neles o respeito e a educação para o trânsito. Segundo
Eduardo Biavatti, mestre em sociologia (UnB), escritor e especialista em
educação e segurança no trânsito, o papel dos CFC’s teve uma ampliação e
uma incorporação de muitos temas. “A habilitação nas antigas
autoescolas era estritamente um aprendizado de placas de trânsito para
fazer a prova e aprender a passar a marcha e frear o carro. Em outras
palavras, o papel da autoescola era meramente técnica”, avalia Biavatti.
Atualmente, o papel do CFC sofreu uma ampliação e um
aperfeiçoamento muito importante. Exige-se muito mais do que uma
autoescola consegue ensinar. “Não há tempo
suficiente nem espaço suficiente para abordar e transformar o curso de
primeira habilitação em uma reflexão sobre a segurança, sobre a vida. E
essa é uma expectativa que não se cumpre e não é por que os CFC’s são
fracos ou irresponsáveis”, argumenta o especialista.
Na opinião de Fábio de Cristo, membro do Laboratório
de Psicologia Ambiental da UnB, administrador do Portal de Psicologia do
Trânsito, coordenador da Rede Latino-Americana de Psicologia do
Trânsito e autor do livro Psicologia e trânsito - Reflexões para pais,
educadores e (futuros) condutores,
os cursos de primeira habilitação, deveriam ensinar outras habilidades
que influenciam a condução, como as de relacionamento interpessoal e de
autoavaliação a fim de controlar emoções e impulsos.
A educação para o trânsito no Brasil está focada mais na memorização
das leis – o que é certo ou errado – do que na discussão e reflexão dos
fundamentos delas ou nas consequências potencias, para si e para outros,
de não cumpri-las.
Por isso, para o psicólogo, saber o que significa, por exemplo,
aquela placa com “um triângulo de cabeça pra baixo” (dê a preferência) é
importante; todavia, o trânsito é mais complexo do que decorar normas,
saber ligar/desligar o carro e passar a marcha. “As relações no trânsito
dizem respeito às relações humanas e consigo, e isso deveria ser mais
trabalhado nas escolas. A maior dificuldade que o condutor encontra
depois que ele adquiriu a habilitação não é manejar seu veículo, e sim
como relacionar-se com os demais participantes”, completa.
Muitas autoescolas desenvolvem um intenso trabalho de prevenção,
segurança e valorização da vida. “Em nosso ramo, conseguimos perceber a
evolução significativa dos CFCs, eles passaram a se preocupar realmente
com a formação cidadã do novo condutor”, avalia Celso Alves Mariano,
especialista em trânsito e diretor da Tecnodata Educacional.
Ainda de acordo com o especialista, vários alunos chegam à autoescola
sem nenhuma motivação, já achando que sabem tudo sobre o ato de
dirigir, e o CFC tem uma difícil tarefa de mudar a cultura desse
indivíduo. “Os resultados são surpreendentes e muitos jovens saem
transformados e conscientes de seu papel no trânsito”, diz o
especialista.
Para concluir, o especialista destacou que atualmente o Centro de
Formação de Condutores talvez seja o único contato que o candidato a
primeira habilitação tenha com a educação para o trânsito. “O CFC é uma
instituição de ensino, certificada e credenciada pelo Detran, com
qualidade e responsabilidade para despertar no cidadão todos os
requisitos necessários para que ele seja um condutor mais responsável,
que conheça e respeite as leis, e que olhe os outros usuários com mais
compreensão e dignidade”, conclui Mariano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário.