Os candidatos passam no exame do Detran, mas não se sentem seguros para dirigir
A formação de condutores de veículos é falha no DF, segundo
especialistas, instrutores e os próprios motoristas. Só em 2011, 3.335
habilitações foram apreendidas no Distrito Federal e, desse total, 77
foram cassadas.
Segundo o pesquisador da UnB (Universidade de Brasília) Davi Duarte,
especialista em segurança no trânsito, falta também acompanhamento do
motorista pelo órgão fiscalizador de trânsito, o Detran (Departamento de
Trânsito).
O especialista explica que, à medida que o condutor se sente relaxado
para enfrentar as ruas, acaba se abrindo para riscos diferentes ao se
sentir capaz de infringir as leis de trânsito, como, por exemplo,
exceder a velocidade permitida ou furar um sinal vermelho.
O estudante Tadeu Mendonça, 20 anos, habilitado para dirigir há menos
de um mês, conta que, ao contrário do curso teórico, as aulas práticas
foram falhas. Ele reclama da falta de comunicação dos instrutores de
autoescola.
— O instrutor evita que o carro faça alguma manobra inadequada, mas
não dá tantas instruções. Às vezes ele interferia sem avisar e não
explicava a minha falha. Muitas vezes ele saia do carro e não me
acompanhava enquanto eu treinava o estacionamento, ou falava ao telefone
enquanto eu estava dirigindo. Faltou acompanhamento e mais interação.
As reclamações de Mendonça e dos colegas que fizeram autoescola junto
com ele refletem no que mais tarde outros motoristas irão chamar de
“barbeiragem”. No último ano, o DF registrou 4.117 acidentes de trânsito
com mortes.
De acordo o instrutor Alexandre Sales, que há seis anos dá aulas para
condutores já habilitados, mas que se sentem inseguros para dirigir, o
principal problema desses motoristas é a dependência gerada pelo carro
da autoescola, que é adaptado com pedais no lado do passageiro para
possibilitar a interferência do instrutor caso o aluno faça algo
prejudicial ao trânsito ou que possa causar algum acidente.
— Quando eles tiram a carteira de motorista e saem sozinhos ficam com medo do trânsito.
Além disso, Sales aponta que muitos candidatos não estão preparados
para enfrentar o trânsito. Capacitados apenas para passar no teste, eles
se sentem acomodados e amparados pelo cumprimento da carga horária
exigida. O Conselho Nacional de Trânsito determina que o candidato
cumpra 45 horas de aulas teóricas e 20 horas de aulas práticas.
Para o assistente de trânsito do Detran-DF, Raimundo Lago, é comum
que a habilidade para dirigir seja conquistada apenas no cotidiano.
— No dia da prova, é verificado o grau de habilidade que o candidato
tem para dirigir um veículo automotor na malha viária. Mas ele vai
encontrar diversas situações que ele não encontrou no dia do exame e é
com o dia a dia que ele vai se adequando.
O especialista em segurança no trânsito condena justamente esse
modelo de teste aplicado pelo Detran. Para Duarte, o exame deveria ser
mais rigoroso.
— Em alguns países, os exames chegam a durar até duas horas. O exame
que é feito no Brasil é muito simples, dura cerca de 15 minutos. O
examinador simplesmente olha se o condutor sabe dirigir e dirigir é
muito mais do que manobrar um carro. É preciso avaliar como o condutor
se comporta em situações de risco, em imprevistos que surgem no
trânsito.
Fonte: R7 Notícias
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