Respeitando as 
Diretrizes Nacionais do Conselho Nacional de Educação e a Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, conhecida como LDB, as 
escolas têm autonomia para escolher de que maneira diferentes assuntos 
serão abordados, se serão disciplinas ou não. É o que afirma o pedagogo e
 ex-coordenador de educação do Conselho Nacional de Desenvolvimento 
Científico e Tecnológico
 (CNPq), Walter Garcia. Mesmo assim, muitos projetos de lei sugerindo 
disciplinas obrigatórias são propostos na Câmara do Deputados, como o 
Projeto de Lei 629/2011, de autoria do deputado Onofre Santo Agostini 
DEM/SC, que prevê a criação das disciplinas educação ambiental e 
educação no trânsito.
As 40 mil mortes anuais nas vias
 brasileiras estão entre as justificativas para a aprovação do projeto. 
Para o deputado, apesar de se falar muito nesses temas atualmente, pouco
 é feito na prática. Apresentado na Câmara de Deputados desde março de 
2011, se aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania 
(CCJC), o projeto de lei vai para a votação na Câmara.
Para o vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de 
Ensino do Estado de São Paulo, José Augusto de Mattos Lourenço, a 
criação de disciplinas obrigatórias tira a liberdade das escolas, 
prevista na LDB. “Se forem aprovados todos os projetos de lei com esse 
objetivo, não teremos mais horários nem dias para todas as disciplinas”,
 afirma. Tanto a educação no trânsito
 quanto a educação ambiental são tratadas dentro de outras disciplinas, 
através de redações nas aulas de português ou de debates em aulas de 
história e de geografia, afirma Lourenço.
Contudo, as iniciativas para a educação no trânsito realizadas de 
forma objetiva e satisfatória são exceções, na opinião da presidente da 
Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, Diz Gonzaga. A Fundação desenvolve o
 projeto Vida Urgente, que realiza atividades visando à humanização do 
trânsito. Diza acredita que o ensino não deve ser focado nos motoristas e
 pedestres, mas na vida, ensinando as crianças a brincar em local 
seguro, a dar a mão para adultos antes de atravessar a rua, entre outras
 atitudes relacionadas com a idade. Para ela, a criação de uma 
disciplina não pode ser uma mera formalidade, mas deve ser trabalhada 
levando-se em conta a realidade de cada aluno e escola. “A minha 
preocupação é que não seja uma disciplina que fale simplesmente de 
sinais de trânsito. Isso é informação, não educação”, opina.
Informática e educação para a saúde foram propostas e arquivadas
Há uma diferença entre disciplina e conteúdo obrigatórios. O termo disciplina se refere a um campo do conhecimento que será tratado na escola com carga horária própria e com professor habilitado para trabalhar em uma área específica. Já conteúdo obrigatório é um assunto que pode ser tratado dentro de uma disciplina, escolhida pela escola.
Há uma diferença entre disciplina e conteúdo obrigatórios. O termo disciplina se refere a um campo do conhecimento que será tratado na escola com carga horária própria e com professor habilitado para trabalhar em uma área específica. Já conteúdo obrigatório é um assunto que pode ser tratado dentro de uma disciplina, escolhida pela escola.
A educadora e conselheira da Câmara de Educação Básica do Conselho 
Estadual de Educação de São Paulo, Guiomar Namo de Mello, explica que a 
LDB não fala em disciplinas obrigatórias e sim em temas que o aluno deve
 aprender. “Não tem artigo na lei que diga que o português é 
obrigatório, diz que é preciso dominar a língua portuguesa, o que não é a
 mesma coisa. Isso pode ser feito através da literatura, por exemplo”, 
explica. Para ela, a criação de novas disciplinas obrigatórias é uma 
forma de reserva de mercado para os profissionais.
O primeiro passo para se criar uma disciplina é um deputado 
apresentar um projeto de lei pedindo alteração na LDB. Foi o caminho 
percorrido para a criação das disciplinas de Filosofia e Sociologia, 
hoje obrigatórias em todos os anos do Ensino Médio. O deputado Ribamar 
Alves PSB/MA acredita que tais disciplinas podem tornar os alunos mais 
questionadores, por isso apresentou o projeto de lei em 2003, que foi 
aprovado na Câmara, no Senado e, depois, sancionado pelo então 
vice-presidente, José Alencar, que exercia a função de presidente da 
República, tornando-se lei cinco anos depois.
Diversas disciplinas e conteúdos são propostos mais de uma vez por 
diferentes deputados e com pequenas modificações. Projetos que 
propuseram moral e cívica, informática, educação para a saúde, noções 
básicas de política e cidadania como disciplinas obrigatórias foram 
arquivados.
Para Guiomar, os conteúdos são organizados nas escolas por tradição. 
Temas transversais, como educação sexual, são abordados em diversas 
disciplinas. Na visão de Garcia, é importante respeitar as diversidades 
locais e regionais no ambiente educacional. “Vejo uma intervenção 
federal descabida em assuntos de educação básica que deveriam ficar a 
cargo dos estados e municípios”, critica.
Fonte: Olhar Direto
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