Uma das principais inovações
da Resolução 358/10 foi a previsão de descredenciamento dos CFC’s que
não atinjam o índice mínimo de 60% de aprovações nos exames teóricos e
práticos no período de 1 ano anterior ao mês da renovação do
credenciamento. Até então, não se tinha no Brasil exigências, algum tipo
de termômetro ou índices mínimos de aprovação. Tampouco, consequências
tão sérias quanto o descredenciamento do CFC.
Ensinava-se a dirigir sem a preocupação com índices, tampouco sem a
preocupação positivada com o desempenho dos CFC em função do desempenho
dos alunos nas provas práticas de direção. Daí, de repente, a 358 cai
como uma tijolada.
Os legisladores justificaram a edição da 358 considerando que a eficiência
da instrução e formação depende dos meios didático-pedagógicos e
preparo adequado das equipes pedagógicas dos CFC, a defesa da vida e a
segurança de todos os usuários do trânsito, e nisso se encaixa a
preocupação com motoristas melhores preparados para evitar acidentes por
imperícia.
Ocorre que independente dos motivos que levaram a editar tal
Resolução ela está aí e todos tem que fazer a sua parte. Mas qual é a
parte de cada um? O CFC e seus profissionais se queixam que os Detrans cobram muito e pouco ajudam.
O art. 3º da referida Resolução deixa bem claro que, dentre outros, o
papel do Detran é credenciar os CFC e seus instrutores; auditar, apurar
irregularidades e aplicar as penalidades cabíveis. Mas dispõem também
sobre a tarefa do Detran em dar suporte para selecionar o material,
equipamentos e ação didática a serem utilizados, com apoio pedagógico. E
isso é bem diferente de entregar o planejamento pronto, de mão beijada
aos CFC, pois essa é uma tarefa de cada um em função de sua realidade.
Já o art. 11 da 358 determina que para não serem
descredenciados e fecharem as portas os CFC’s devem apresentar índices
mínimos de 60% de aprovação de seus alunos. Se em menos de 3 meses esse
percentual não for atingido o Detran solicitará ao Diretor de Ensino a
revisão do plano pedagógico e, se ainda assim não conseguirem atingir os
índices mínimos, após mais 3 meses, os instrutores e os diretores do
CFC deverão participar de treinamento de reciclagem e atualização sob a responsabilidade do Detran.
Até aqui, cada um tem seu papel bem definido pela Resolução 358, mas,
a raiz do problema está mesmo no modo como cada um faz o seu papel.
Ficar de dedo em riste apontando culpados ou colocando uns aos outros no
banco dos réus das reprovações é perda de tempo precioso a essa altura
do campeonato. Afinal, o processo de habilitação envolve um sistema,
todo sistema é integrado e as ações de um interferem na ação do outro e
no processo de habilitação como um todo.
Quando um aluno reprova, ele não reprova sozinho. Todo o sistema
reprova junto com ele porque em algum ponto desse sistema alguém não fez
a sua parte, prejudicando à todos, sobretudo o motorista novato que vai
para as ruas despreparado (e isso é bem diferente de falta de
habilidade ou de prática) e a sociedade, que também paga a conta da
formação ruim de condutores e dos acidentes por imperícia.
Assim como só a cobrança dos Detrans não qualifica os CFC e seus
profissionais, apresentar o plano pedagógico como mera formalidade não
extingue a cobrança dos Detrans, dos alunos e da sociedade. Há estados
em que todos os CFC apresentaram seus planos pedagógicos dentro do prazo
e os baixos índices de aprovação persistem porque o discurso não
corresponde à prática.
A questão está em rever o modo como se ensina e como se aprende a
dirigir no Brasil. Está na substituição dos métodos pedagógicos
tradicionais baseados em adestramento por métodos que tornem a
aprendizagem significativa. E rever as diretrizes pedagógicas para
formar condutores melhores preparados é uma tarefa de todos: dos
Detrans, que vão orientar e dar suporte pedagógico aos CFC; dos CFC, que
vão orientar seus diretores gerais e de ensino; destes últimos, que
fazem a gestão do projeto pedagógico e vão acompanhar e avaliar o
trabalho dos instrutores. Mas também é uma tarefa dos próprios
instrutores para que criem oportunidades de investir em sua formação e
qualificação permanente.
Este é um momento de se buscar o diálogo, de se rever o papel de cada
um no processo de habilitação; de se fazer paradas pedagógicas para
atualizar e melhorar o modo como estamos ensinando nossos alunos a
dirigir e buscar sempre, de uma forma pacífica, o trabalho comprometido e
compartilhado. Mais importante do que alcançar índices de aprovação é
preparar melhor os novos condutores. Desta forma, todos os índices
mínimos serão superados.
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