“Amigos não deixam os amigos dirigir bêbados.” No futuro, esse amigo pode ser o seu carro.
Pesquisadores que trabalham com a Aliança de Fabricantes de Automóveis e com a Agência Nacional de Segurança do Trânsito nas Estradas, ou NHTSA, duas instituições dos Estados Unidos, estão desenvolvendo tecnologias que poderiam ser incorporadas ao painel do carro, ou controles para verificar o nível de álcool no sangue do motorista e não dar a partida se estiver acima do limite legal. Esse esforço, iniciado em 2008, é chamado oficialmente de Sistema de Detecção de Álcool no Motorista para a Segurança.
“Fizemos mais progressos, e de forma mais rápida, do que esperávamos”, diz Rob Strassburger, vice-presidente de segurança de veículos na Aliança. Um fator que contribui para os avanços é uma pesquisa de segurança nacional com a meta de desenvolver sensores remotos capazes de detectar agentes biológicos ou outras substâncias químicas. Além disso, os pesquisadores dizem que os sensores de ponta do dedo, utilizados nos hospitais para medir o açúcar no sangue e outros indicadores físicos, também são úteis para detectar o nível de álcool no sangue.
Tudo isso parece futurista, e provavelmente vai levar anos — de 8 a 10, avalia Strassburger — até que os carros e caminhões com detectores de álcool incorporados estejam à venda. A fase seguinte, que levará ainda mais anos depois disso, será um veículo produzido comercialmente com tecnologia para levar para casa, de forma autônoma, o dono embriagado.
Saber se os motoristas ficarão à vontade com um carro capaz de passar por cima dos seus comandos é outra história. Um grupo de restaurantes já está fazendo lobby contra essa tecnologia.
Os argumentos a favor de fabricar carros capazes de detectar se o motorista está bêbado se baseiam na contínua persistência do álcool como fator em acidentes automobilísticos fatais. Em 1982, cerca de 49% dos motoristas mortos em acidentes de carro nos EUA tinham um nível de álcool no sangue de 0,08 ou mais. Em 1994, esse porcentual havia caído para cerca de 33%, onde se estabilizou desde então, conforme conclusões do Instituto de Seguros para a Segurança Rodoviária, a partir de um estudo de dados do governo americano de 1982 a 2010.
Já existe tecnologia para desativar um carro se o motorista estiver embriagado, mas hoje é utilizada basicamente como medida punitiva para quem for flagrado com um nível de álcool no sangue acima do permitido.
Cerca de 16 Estados americanos agora exigem que as pessoas condenadas por dirigir com um nível de álcool no sangue acima do limite legal de 0,08 instalem a chamada “trava de álcool” em seus veículos. Esses sistemas desajeitados exigem que o motorista sopre em um tubo para verificar se está sóbrio, antes de dar a partida. Ninguém na indústria automobilística está propondo oferecer esse tipo de sistema como equipamento de fábrica. Em vez disso, os sensores seriam discretos, talvez embutidos no botão da ignição ou na alavanca de câmbio.
O entusiasmo pelo potencial da tecnologia de detecção de álcool está se refletindo em um projeto de lei federal para os transportes. Ele inclui uma medida que daria ao programa da NHTSA de detecção de álcool US$ 24 milhões ao longo de dois anos — quantia que permitiria à agência equipar, até 2013, uma frota de 100 ou mais carros com protótipos de dois tipos de detectores de álcool. Um deles mediria o álcool no hálito do motorista. O outro usaria a tecnologia sensível ao toque para fazer uma leitura do nível de álcool na pele do motorista, provavelmente as pontas dos dedos que ativam o botão de ignição.
O contra-argumento, nesta fase inicial, está sendo feito com mais veemência pela organização que representa a indústria de restaurantes em Washington. “Vai criar um ambiente de tolerância zero”, diz Sarah Longwell, diretora do Instituto Americano de Bebidas.
“Acreditamos que não há nada perigoso ou ilegal em tomar um copo de vinho com o jantar e voltar dirigindo para casa”, diz Longwell. A preocupação do grupo é que os detectores de álcool embutidos terão de ser calibrados para desligar o carro em níveis bem abaixo de 0,08, para evitar o risco de responsabilidade de que um motorista entre no carro um pouco abaixo do limite permitido, e, em seguida, exceda o limite durante a viagem à medida que a última bebida que ingeriu entra na corrente sanguínea.
Fonte: The Wall Street Journal
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