Essa
é uma pergunta que se vem fazendo não é de hoje e vem acompanhada de
outra: o que fazer para que os motoristas corram menos no trânsito?
O que não faltam são estudos na área de Psicologia do Trânsito,
grande parte associados à personalidade, que tentam explicar o
comportamento dos pés de chumbo. Dentre as explicações clássicas, o
prazer de acelerar para se autoafirmar, obter satisfação, prazer ou
bem-estar em dominar a máquina.
Há ainda os estudos que mencionam a necessidade de compensação de
sentimentos de inferioridade ao pisar pesado. Alguns, ao se julgarem
melhores motoristas que os outros, em rompantes de grandeza, se julgam
superiores e habilidosos a tal ponto em que praticam uma direção
agressiva como forma de dizer: “olhem como eu sou bom”, “olha o que sei
fazer com o carro”, “olha como eu controlo a máquina!”.
Só que não controlam os outros fatores que não dependem deles: não
controlam o comportamento dos outros, não controlam a geometria das
vias, o traçado das curvas, a inexperiência do outro, não controlam as
falhas mecânicas e, no final, não controlam nem a si mesmos e acabam se
envolvendo em acidente. Só que em acidentes em alta velocidade não se
perde só os dentes, mas a vida. A própria vida e a dos outros!
Por conta de uma percepção individualista e egoísta de um espaço que é
compartilhado (o trânsito), muitos motoristas colam na traseira do
outro, buzinam, xingam, dão sinal de luz para pressionar o outro a andar
mais rápido ou sair da frente.
É esse egoísmo que faz muitos motoristas odiarem alunos de autoescola
que estão aprendendo a andar na velocidade da via; a terem raiva de
quem deixa o carro morrer na saída de um cruzamento; a desrespeitarem os
outros no trânsito como se fossem os únicos donos da rua. É por conta
dessa visão individualista do trânsito que muitos motoristas se acham no
direito de fazer as próprias leis e as próprias regras.
Simplificando a Teoria de Wilde, há os que arrotam experiência e
habilidade dizendo que dirigem desde criança e que por isso, tem
controle total sobre o carro. Autoconfiantes em excesso, passam a
acreditar que nunca vão se envolver em acidentes, dando a si mesmos
garantias e imunizações contra o risco. O que esses motoristas deveriam
saber é que quando eles ainda estavam nas fraldas brincando com carrinho
de brinquedo, aquele motorista com o dobro de anos de carteira e
experiência que eles, também pensava e agia assim, até o dia em que
matou, morreu ou feriu a si mesmo e a outras pessoas porque dirigia em
alta velocidade.
Também há aqueles que estabelecem os próprios limites de velocidade
por que acreditam que o maior risco da velocidade é não ter controle
sobre o carro, e como eles acham que tem o controle total da situação
mesmo com o ponteiro e o pedal no limite, não se sentem infratores nem
expostos a riscos. Afinal, se há controle não há riscos!
E assim, quem abusa da velocidade vai fazendo as próprias leis,
confia demais em si mesmo, na tecnologia dos carros, inventa os próprios
discursos e tenta desqualificar as leis, os limites de velocidade, a
fiscalização e os outros motoristas.
O que fazer para que os motoristas corram menos no trânsito?
Engenharia, prevenção e fiscalização. E prevenção também se faz com
campanhas educativas sérias que não excluam a população. Fala-se muito
em educação para o trânsito nas escolas e isso é importante, mas não é
tudo, é apenas uma das estratégias enquanto fora do muro das escolas
quem continua pisando fundo são os adultos que aceleram demais.
Se correr demais no trânsito é um comportamento gerado por emoções,
então que se use uma linguagem emocional à altura para dar estímulos que
levem à mudança de comportamento. Exemplos disso são as campanhas da
TAC Vitória, na Austrália, e Safety Road, no Reino Unido, que conseguem
anualmente baixar os índices de acidentes em seus países.
Mas, aqui no Brasil, isso passa pela substituição das campanhas água
com açúcar para se ter mais impacto, em orientar a mídia para não apelar
tanto para a emoção da velocidade e se iniciar uma parceria com os
psicólogos peritos do trânsito, que são os estudiosos do comportamento
humano e podem orientar em campanhas educativas com a abordagem
adequada.
Parafraseando como bem diz a jornalista e colunista, Mariana Czerwonka, os 3E´s: Engenharia, Esforço Legal e Educação. Se um destes pilares não estiver funcionando direito, a tendência é de que as coisas fiquem bem piores. E aí, vamos aliviar o pé?
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