Por uma infinidade de questões, de culturais à políticas,
parecemos atrasados em alguns quesitos no segmento automotivo. Saiba o
que poderia melhorar
Cada país tem sua cultura, inclusive automotiva. No Brasil, fatores
históricos, econômicos, políticos, climáticos, além de inúmeras
particularidades que regem nossa legislação, nos colocam no patamar
atual, muitas vezes atrasado, se comparado a muitos países pelo mundo.
Analisando somente o segmento de automóveis, iG identificou diversos
pontos em que o mercado de veículos poderia evoluir (e muito!). Saiba
quais são:
Pneus run flat
Por que é bom? Os pneus run flat são feitos de compostos especiais e
possuem reforços nas paredes laterais, que fazem com que eles suportem a
carga do veículo, mesmo sem pressão. Eles podem rodar sem ar por cerca
de 120 km a uma velocidade de 80 km/h sem superaquecer. Além de poder
rodar furados, liberam espaço no porta-malas, possibilitam melhor
controle do carro em caso de perda de pressão e evitam que você pare
para fazer a troca em um local inseguro, minimizando riscos de assalto
ou acidentes.
Por que não tem no Brasil? Primeiramente, eles são caros, chegam a
custar quase 60% a mais que um pneu normal. O fator preço, aliado ao
pequeno volume de carros que utiliza este tipo de pneu no Brasil, faz
com que os lojistas não invistam no estoque, ou seja, não é fácil
encontrá-los no mercado. Outro problema que afasta os pneus run flat do
asfalto brasileiro são os buracos. Mesmo com o flanco rígido, os run
flat são vulneráveis a pancadas fortes. Caso o pneu faça uma bolha, por
exemplo, libere o cartão de crédito e compre outro.
Estepe de emergência
Por que é bom? Ele também é conhecido como temporário ou provisório.
Por ter dimensões bem menores que o original, ocupa bem menos espaço no
porta-malas. Mais fino e com tipo de construção diagonal, o pneu de
emergência vem calçado em uma roda de aço repleta de avisos em amarelo,
que indicam para o motorista não ultrapassar a velocidade máxima de
80km/h. Além da limitação de velocidade, o pneu provisório muda
drasticamente o comportamento do carro, “obrigando” o motorista a
reparar o quanto antes o pneu avariado.
Por que não tem no Brasil? O estepe de emergência é comum há anos em
uma infinidade de países do mundo, e, com a presença cada vez maior de
veículos importados no Brasil, ele passou a ser inserido também em nossa
realidade. No entanto, modelos fabricados no Brasil ainda não optam por
este tipo de pneu reserva, pois na cabeça do brasileiro ele é não é
vantajoso. O pneu reserva igual ao original é visto como “conteúdo” no
automóvel, porque a ideia do consumidor é utilizá-lo no rodízio de
pneus. Ou seja, o sujeito inclui o estepe no novo jogo e evita ter que
comprar um novo. Uma falsa ideia de economia, uma vez que pode-se pagar
caro por ela no futuro.
Eliminação da obrigatoriedade do extintor de incêndio no carro
Por que é bom? O Brasil é um dos únicos países que exigem que os
carros estejam equipados com extintor de incêndio como um item de
segurança. A obrigatoriedade existe desde 1972 e, segundo o Contran
(Conselho Nacional de Trânsito), os veículos já devem sair de fábrica
equipados com o extintor, que é exigido ainda no licenciamento. Se o
equipamento não estiver dentro das especificações, o motorista paga
multa e perde pontos na carteira. Deve haver algum motivo para que os
países desenvolvidos (como Estados Unidos e diversos da Europa e Ásia)
não exijam seu uso, não? Sim, eles alegam que a probabilidade de
incêndio em um carro novo é relativamente pequena.
Porque não é assim no Brasil? A não revisão de nossa legislação
quanto ao uso do extintor nos lembra muito a tentativa (frustrada) da
obrigatoriedade do kit de primeiros socorros para os veículos. Quem se
lembra? O ato engordou um baita lobby e para o consumidor só representou
ônus, já que em um acidente de verdade, alguns pacotes de gaze e
esparadrapos junto a alguém sem treinamento não devem surtir muito
efeito. Aliás, voltando ao incêndio, mesmo que nosso veículo pegue fogo,
quem de nós está apto para combatê-lo?
Informação de trânsito em tempo real
Por que é bom? A grande maioria das pessoas que dirige diariamente
nas grandes metrópoles utiliza algum aplicativo que as informa sobre as
condições de trânsito em tempo real. Isso é tão certo quanto dizer que
dois mais dois são quatro, afinal, todos querem uma rota para fugir do
tráfego pesado. No entanto, a maioria dos carros que saem de fábrica com
GPS ainda não disponibiliza este serviço integrado ao aparelho,
obrigando os motoristas a fazer malabarismos com suportes para seus
smartphones. Em outros países, os carros novos já vêm com o sistema de
conexão à internet integrado e ainda contam com parcerias com apps como o
Waze, por exemplo, facilitando muito a vida do motorista.
Por que não tem no Brasil? Um serviço desse tipo exige uma boa
infraestrutura da rede de internet, que ainda anda atrasada no Brasil,
além de uma extensa cobertura das empresas que prestam este tipo de
serviço. Fatores externos que precisam ser combinados aos investimentos
de montadoras, para que tornem viável a instalação de sistemas de
entretenimento com GPS em modelos mais em conta. Utilizar o celular
ainda sai muito mais barato do que adquirir um carro com o sistema,
infelizmente.
Suspensão dos carros no Brasil é mais alta
Por que é assim? Neste tópico não estamos falando de carros
rebaixados, longe disso, mas sim do trabalho que deve ser feito na
suspensão de um veículo que será comercializado no Brasil - e todas as
montadoras estão carecas de saber disso. Nossos carros saem de fábrica
sempre um pouco mais altos do que o normal e a regra deve-se às péssimas
condições do asfalto no País, cujas valetas, lombadas e buraqueira são
um verdadeiro pesadelo para a vida útil de qualquer automóvel mais
baixo.
Por que não pode ser diferente? Como dizem por aí, o buraco é
literalmente mais embaixo, pois a resolução deste problema está ligada à
questões políticas e de infraestrutura. Ou seja, em um país grande como
o Brasil, onde há desvio de verba a cada obra pública, pode-se dizer
que a recuperação da pavimentação não passa de um sonho distante.
Carro de passeio com motor a diesel
Por que é bom? O diesel é um combustível mais eficiente que a
gasolina e o etanol, além de ser mais barato. Na Europa e até em países
próximos ao Brasil, como Argentina e Chile, esse tipo de motor é
utilizado em larga escala em carros de passeio, como um VW Fox ou Ford
Focus. Esses veículos têm alcances muito superiores ao de similares a
gasolina e também poluem menos.
Por que não tem no Brasil? O diesel no Brasil é subsidiado pelo
governo para utilização em veículos comerciais, como caminhões e
utilitários com tração 4x4. Para ser introduzido em carros
convencionais, teria de haver uma mudança na lei e ainda evoluir a rede
de abastecimento e também a qualidade do combustível, que ainda é muito
“sujo” no País para ser usado dessa forma. Isso sem falar no temor de
que o aumento da procura pelo diesel possa encarecer o já elevado custo
do frete.
Sistema de socorro automático
Por que é bom? Imagine se acidentar em uma região remota, onde poucos
carros passam. As chances dos ocupantes feridos a bordo serão maiores
de acordo com a rapidez da chegada do serviço de atendimento. No
exterior já existem empresas que oferece a donos de automóveis um
serviço de chamado de emergência automático, que é acionado após uma
batida com ativação de airbags.
Por que não tem no Brasil? Um serviço desse tipo exige certo
entrosamento entre montadoras e autoridades, o que não acontece
plenamente no Brasil. Não só isso, há também a questão dos custos, uma
vez que o carro precisa receber toda uma aparelhagem de comunicação e
rastreamento. No mercado brasileiro, a Volvo já oferece esse tipo de
serviço e o novo Ford Ka vai adotar o recurso.
Estradas sem limite de velocidade
Por que é bom? Na Alemanha, além de ótimos carros, existem estradas
com trechos sem limite de velocidade máxima, as Autobahns. Viajando em
alta velocidade em uma estrada com engenharia de ponta, encurta-se
viagens. Não só isso, também livra o motorista de se preocupar em frear
ao passar por radares de fiscalização, o que aumenta a segurança.
Por que não tem no Brasil? Esse tipo de medida não é adotada no
Brasil por uma série de fatores. Os principais são a falta de educação
dos motoristas no trânsito e a péssima qualidade das estradas no Brasil,
que inviabiliza o uso de carros em alta velocidade. Algumas rodovias do
estado de São Paulo, como a Bandeirantes e Castelo Branco, teriam
capacidade de suportar um fluxo assim, mas seria necessário um
gerenciamento mais ativo para desligar os trechos sem limite em casos em
que há algum problema à frente.
Postos de abastecimento sem frentista
Por que é bom? Na Europa e algumas partes dos Estados Unidos é o
motorista do carro quem deve fazer que no Brasil é exclusiva dos
frentistas. O próprio condutor pega a pistola de combustível e abastece o
veículo e em seguida é só pagar na própria bomba com cartão de crédito.
Esse processo agiliza o abastecimento e diminui o tempo de espera em
filas.
Por que não tem no Brasil? No Brasil é comum ter postos que possuem
mais bombas de combustível do que frentistas, por isso se formam filas e
o tempo de espera, dependendo do horário, podem incomodar bastante quem
tem hora marcada. O País ainda não está pronto para ter postos sem
frentista e o motivo é a desconfiança. Há chance de haver golpes,
infelizmente, é grande, sem contar aí o impacto negativo do desemprego
iminente de milhares de pessoas.
Carros urbanos
Por que é bom? Diversas montadoras que atuam no Brasil já têm no
exterior veículos que foram desenvolvidos focados no uso urbano. Eles
são menores, mais leves, consomem pouco combustível e também são mais
barato que veículos mais versáteis, como um hatch ou um sedã. O Smart
Fortwo e a nova geração do Renault Twingo são alguns desses exemplos.
Por que não tem no Brasil? O consumidor ainda prefere andar em carros
mais versáteis, não só pela praticidade mas também por causa do preço
mais baixo. Desafiando a lógica, esses carros urbanos, que são muito
pequenos, têm preços de carro grande no Brasil. Há, porém, veículos
nacionais que ficam no meio termo, como VW up! e o novo Ford Ka.
Fonte: Mídia News
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