É
possível que mesmo antes de iniciar a leitura do post, muitos
questionem em tom irônico no que será que não existe corrupção no
Brasil. Mas, entre concordar, anuir e praticar a corrupção existe uma
enorme diferença pautada pelo caráter e pela conduta.
Infelizmente, a corrupção nos exames de direção ainda existe sob
diversos nomes: “quebra”, propina, “tuf” e outras denominações que
envergonham ainda mais um processo de formação de condutores que já é
pautado por poucas horas práticas, pela memorização e adestramento que
ensina a executar movimentos decorados que roubam a autonomia do futuro
condutor e não lhes prepara para dirigir sozinhos depois de habilitados.
No contato e convivência diária com candidatos e recém-habilitados de
todo o Brasil em minhas páginas nas redes sociais como parte do
trabalho de Educação Para o Trânsito online (EPTon), praticamente não
existe um dia em que alguém não denuncie ou comente este tipo de oferta
criminosa: pagar propina para ser aprovado no exame de direção.
A orientação é sempre a mesma: denuncie ao Detran do seu estado e se
as denúncias caírem em ouvidos surdos, denuncie ao Ministério Público.
Usar o gravador de voz ou a câmera do celular quando estiver conversando
fora do carro com o corrupto para acertar os detalhes do pagamento de
propina é um prato cheio para algum jornalista investigativo da imprensa
local.
Em suma, a orientação é: denuncie! Faça qualquer coisa, mas não alimente a corrupção nos exames de direção.
Já se reclama tanto que 20 horas é pouco para ensinar a dirigir, que o
candidato é quem tem falhas na educação que recebeu em casa e que não é
obrigação do instrutor educá-lo, que tem problemas sérios de
concentração, de dificuldades para aprender e tantas outras, e ainda
querem transformar a habilitação comercializada na base da propina em um
vale-acidente?
Sempre digo aos candidatos: seja lá quem for que te proponha pagar
propina para passar no exame de direção não está nem aí com você, com a
sua segurança e se algo de pior for provocado não vai te mandar nem uma
coroa de flores como pesar por um acidente que ajudou a provocar.
Isso sem falar em outras formas de corrupção diárias que a mídia não
cansa de denunciar, tais como a fraude dos dedos de silicone, ministrar
menos aulas do que o cobrado e até o absurdo de não cumprir com o
cronograma de aulas e conteúdos para candidatos que afirmam que já sabem
dirigir e só iniciaram o processo porque não tem outro jeito de
conseguir a CNH.
Ou ainda aquelas formas de corrupção divulgadas abertamente em redes
sociais em forma de anúncio ou de pedido de um profissional que empreste
ou venda seu nome e suas credenciais apenas para assinar documentos.
Conheço profissionais maravilhosos que levam a profissão de ensinar a
dirigir a sério, que se orgulham de estar na área há tanto tempo ou
mesmo começando, e mesmo que não se possa generalizar, quem é do meio
sabe (tanto quanto aquele que a pratica) que a corrupção existe. Negá-la
é hipocrisia e tentar defendê-la pelo corporativismo é faltar com o
compromisso ético e moral para consigo mesmo, para com os futuros
condutores e para com a sociedade.
A corrupção no processo de habilitação existe, entristece quem
trabalha sério e exige ainda mais dos que não concordam com ela. Existe e
é uma banda podre que ronda o tempo todo para se manifestar na primeira
oportunidade.
Não é novidade que os acidentes de trânsito no Brasil constituem problema de saúde pública com status de epidemia ou que registram mais mortes por ano do que o câncer, as doenças cardiovasculares e as guerras no mundo.
Dizer que o que morre de gente no trânsito equivale à queda de um avião da Malaysian Airlines por dia ou que dá para lotar os 12 estádios da Copa parece que não sensibiliza mais ninguém.
Constatar que milhares de condutores que acabaram de sair da
autoescola se envolvem em acidentes todos os dias, desde um retrovisor
arrancado até os mais graves que resultam em sequelas permanentes e
mortes, parece que é visto como natural e é até esperado.
É claro que o processo de habilitação não garante prática, perícia e
habilidade, até porque isso vem com os treinos e o aperfeiçoamento do
ato de dirigir por parte do condutor recém-habilitado. Aliás, é uma das
maiores injustiças que se comete contra o CFC e seus profissionais cada
vez que se cobra perícia de condutor novo.
Mas, o fato é que a maioria expressiva dos condutores que saem dos
CFC’s não aprendeu o básico, o mínimo para que possam dirigir sozinhos e
com segurança ou, pelo menos, com as noções mínimas de controle e
domínio do veículo para aperfeiçoar o ato de dirigir.
Agora, imaginem com todas essas dificuldades ainda se cobrar propina
para habilitar um cidadão que não vai saber o que fazer no trânsito, que
não tem domínio do próprio veículo e vai, certamente, potencializar
ainda mais o risco de acidentes.
Sinceramente, eu não quero acreditar nessas profecias de que todo
mundo é corrupto no Brasil ou de que as coisas não têm mais jeito nem
conserto. Eu não quero acreditar que a maior preocupação seja em
preparar o candidato para passar no exame de direção ou em diminuir os
índices de reprovação dos CFC’s.
Você conhece um joio no meio do trigo? Denuncie e ajude a tirar essa laranja podre ainda verde ou já madura do cesto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário.