Educar para o trânsito é um imenso desafio. Quando ensinamos alguém a adotar posturas e valores nas vias, deixamos claro que para viver em sociedade é necessário o pleno conhecimento e exercício dos direitos e deveres garantidos pelo Estado, valores éticos e respeito às diferenças. Não basta meramente ensinar as regras de circulação, sinalização ou mudanças na legislação. A educação para o trânsito de hoje requer que saibamos sensibilizar as pessoas sobre a importância de sermos agentes cooperadores e solidários no espaço coletivo.
Para alguns é fácil ensinar “receitas de como fazer”, bastam ter acesso ao Código de Trânsito Brasileiro e demais legislações pertinentes, um público alvo, um bom ambiente, um horário adequado e alguém motivado para colocar em prática. O problema é que de receitas assim o Brasil está cheio. Temos visto na internet uma enxurrada de matérias relacionadas ao trânsito que segue esse princípio. Encontramos pessoas assim em casa, na escola, no trabalho, em organizações, na igreja, na comunidade, etc.
Em outras épocas, ao participar de palestras ou cursos, os resultados eram sempre os mesmos; todos ficavam cientes de tudo o que deveria ser feito de maneira mecânica, como se estivesse numa esteira de uma linha de montagem de automóveis, juntamente com centenas de pessoas iguais. Era como se entre todos não existisse diferença. Certo amigo me disse uma vez que esse processo era semelhante a comer “chuchu”. Não tinha “gosto”.
Atualmente a educação para o trânsito transcende os limites da mera transmissão de leis, direitos e deveres. Hoje, é inadmissível alguém comer “chuchu” na educação para o trânsito. É necessário mostrar ao outro que ele deve ser educado na vida e no trânsito para poder simplesmente “viver”, e que cada um é importante, independente de suas diferenças; deixar claro que o “solo” que pisamos é valioso e que a vida é fantástica.
O bom educador de trânsito já entende que as “receitas de como fazer” são ultrapassadas. Fazemos o mais difícil, porém mais grandioso – ensinamos “como ser”. Mostramos que não basta ter o conhecimento das leis se não houver “educação”. Pouco vale o esforço se somos insensíveis a entendermos que no trânsito, mesmo sendo iguais, possuímos anseios e limitações diferentes. Se hoje somos pedestres, amanhã seremos condutores, se somos jovens, amanhã seremos idosos e o espaço público continuará o mesmo.
Ser educado no trânsito é muito mais que manter em dia a documentação do veículo, ser um bom cidadão, nunca ter sido notificado por algum agente da autoridade de trânsito. Ser educado no trânsito é superar o constante desafio de olhar para o outro e ver sua própria face refletida. É notar que todos nós somos frágeis nessa selva de pedra. É perceber que o Deus que move o outro, nos move também.
Só para fechar a semana com muita paz no trânsito, que esse final de semana seja diferente sem acidentes.
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