O comerciante Augusto de Moraes Melo, 56 anos, conquistou o direito de  dirigir há 12 anos e nunca foi multado. “O segredo é dirigir devagar, conhecer  as regras de trânsito e prestar atenção nas placas”, ensina, num tom de voz de  quem fala sobre a coisa mais óbvia do mundo. Mas nem todo mundo consegue dirigir  sem cometer infração. E quando isso ocorre, tem cada desculpa! De cólica  menstrual ao famoso “você sabe com quem está falando”, aparece todo tipo de  argumento na hora de tentar escapar da multa. De tão absurdas, as desculpas para  a transgressão nas vias são engraçadas. Mas estudiosos alertam que, na maioria  das vezes, os acidentes de trânsito são precedidos de uma infração às  normas de circulação. Sabendo disso, há dois anos, a psicóloga social Ingrid  Luiza Neto decidiu estudar as justificativas dos motoristas para as infrações ao  Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Ela concluiu que para se livrar da punição  o condutor reconstrói a sua conduta, distorce o agente da ação e usa o conhecido  “jeitinho”, que é uma combinação das duas primeiras situações. Ela levou dois  anos para concluir a dissertação de mestrado defendida na última semana, na  Universidade de Brasília (UnB). A pesquisadora entrevistou 563 motoristas, 161  policiais militares do Batalhão de Trânsito (Bptran) e analisou 129 recursos  entregues ao Detran. Na avaliação da psicóloga, entendendo as  justificativas, é possível propor mudanças que efetivamente mudem o  comportamento do condutor e, consequentemente ocorra uma redução dos  acidentes de trânsito. Mecânica Entre os recursos apresentados ao  Detran (confira outros exemplos no quadro ao lado), está o de uma  motorista que usa o conceito da reconstrução da conduta para justificar o erro.  Ela apelou assim ao órgão de trânsito: “Horário de pico é complicado. Deus me  fez burra, limitada e desprovida de superpoderes. Impossível ao olho humano  gerenciar a quantidade de informações nas vias da cidade. Ou dirijo prestando  atenção na mecânica do trânsito ou fico louca lendo placas, milhares, espalhadas  pelo Brasil”. Um exemplo classificado como “jeitinho brasileiro” foi o do  condutor que recorreu à sua religiosidade para sensibilizar o órgão de trânsito.  “Por ser cristão da Igreja Adventista, eu não posso mentir. Me encontro  desempregado e implorando mais uma chance. Prometo nunca mais tomar uma multa.”
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário.